26 de setembro de 2016

Sobre os Fascismos Contemporâneos

A onda fascista é cômica devido a sua mente estreita que é incapaz de ultrapassar a fronteira do próprio mundinho, esse que para ela deve ser o único a existir sem que nenhuma outra informação, pensamento ou teoria possa colocar em risco as suas certezas.
Atualmente, se qualquer pessoa expressar uma crítica à sociedade, ou até mesmo ao capitalismo, à economia neoliberal, à conduta do empreendedorismo ou a meritocracia, sobre a qual as demandas de fascismos cotidianos classificarem como imprópria ao seu mundo e conjunto de valores, automaticamente surgem acusações, rotulações e classificações que se tornaram corriqueiras. Como por exemplo, a tentativa de se xingar de "comunista" e entre outras taxações, pois não tem a capacidade de transpor o abismo da divisão ideológica  de direita e esquerda. Possuem uma obsessão taxativa por Cuba, Coréia do Norte, Venezuela ou qualquer país que lembre "comunismo" ou "socialismo", mesmo que de forma totalmente anacrônica eles acreditam ter o respectivo entendimento sobre essas palavras.
Para um fascista em potencial sempre é conveniente mencionar ditaduras em governos socialistas no decorrer da história, como se fosse um argumento válido para justificar a sua inclinação às ideias extremistas e conservadoras que só servem para reforçar ainda mais a inútil briga ideológica. Vale citar o apego dele por personagens caricatos do tipo Bolsonaro ou figuras neopentecostais que se tornaram representantes legítimos do conservadorismo difuso na sociedade ao qual bipolariza questões políticas com dicotomias partidárias e simplistas. Em seus imaginários, o "comunismo" é um monstro devorador de criancinhas, como se o macarthismo atual fosse um alicerce às personalidades acusatórias e paranoicas.
É possível desconcertar um fascistóide moderno, que agora independe de sua origem social ou ideologia, quando se mostra a ele que há questionamentos e críticas à sociedade e ao governo que estão fora dos clichês e os modelos prontos que ele costuma a construir suas ideias. É notável vê-lo desnorteado quando se fala claramente a ele que uma determinada crítica aos temas e problemas que vivemos não está fundada na simpatia por Cuba ou qualquer regime comunista. Ao fazer isso, demonstra o quanto o ódio à diferença que ele alimenta não passa de uma tolice.
Sempre com medo do confronto de ideias, o fascista contemporâneo age como um soldado que se sente o tempo todo em risco, ao ponto de ameaçar a todos pra defender, sempre de forma agressiva, a sua própria trincheira. Ele nunca está disposto a dialogar, desqualificando qualquer pensamento intelectual e elaborado como algo pseudo-intelectual. Percebe-se a sua ignorância escancarada na sua lógica de ver as coisas, no modo como tenta negar a experiência do outro, advogando a destruição de tudo que for diferente à sua ordem. A sua negação reside na sua ideologia em negar o racismo, assuntos relacionados a homofobia, conquistas históricas das mulheres e as lutas contra as desigualdades sociais.
É comum hoje em dia ver o ódio do fascista superexposto e com grande adesão em vários lugares, instituições, mídias sociais e virtuais, como também nas cabeças de pessoas com faixas etárias bem distintas. Nas discussões do dia a dia não é raro ver um deles exortando suas convicções, imputando a culpa e as práticas de abusos e violências  às suas vítimas, o apoio à pena de morte e redução da maioridade penal, o racismo para ele sempre é visto no seu "inverso", os atos de intolerância, o maniqueísmo em categorizar os cidadãos entre o bem e o mal, a aprovação do porte legalizado de armas, no modo como autoriza a morte para aqueles que pra ele são considerados como vidas descartáveis, o fascínio pela polícia letal, a conivência com as práticas de punição, tortura, extermínio e a defesa pelo retorno de regimes militares mesmo sem ter conhecimento sobre esses contextos.
Há claramente um projeto fascista que se assenta na instrumentalização do medo de uma maioria em perder os seus acessos aos bens de consumo numa situação de risco, crise e insegurança social em que favorece os interesses de uma minoria no poder político.
Realmente o que se presencia aqui é um contexto em que o fascismo social se espalha entre tecnologias políticas em variantes fluxos da dicotomia entre governo e oposição, todas elas visando a imunização do estado.
É preciso ousar resistências contra o vazio do pensamento que transita na ignorância e nos projetos execráveis dos fascismos contemporâneos.