26 de fevereiro de 2022

Nós, que sempre lutamos pra ampliar nossas práticas de resistências diante das relações de poder, temos em primeira instância, para melhor conhecer as táticas de quem devemos combater, admitir e perceber que, os discursos e práticas de ruptura, a conduta antisistema (mesmo por aqueles que atuam como a base dos sistemas vigentes, sobretudo, entre aparatos paramilitares) e a constante organização e mobilização geralmente vem ganhando força no modo de agir dos grupos reacionários, conservadores e até mesmo extremistas da sociedade e não por aqueles que sempre lutavam por processos mais revolucionários entre as lutas de classes e projetos de justiça social. Percebemos isso cotidianamente na forma como esses grupos vem se tornando cada vez mais insurrecionais como movimentos de contra revolução molecular.

Para isso, entendemos como foi a forma de qualquer sistema de pensamento e prática nazi/neonazi e fascista veio se consolidando partindo dessas articulações locais e micro estruturais, como também no campo dos afetos e até mesmo capturando aos seus moldes os discursos e práticas de quem fala e atua nas insurgências. Lembrando que essas práticas não foram apenas algo centralizada ao Estado, e sim nos campos mais subjetivos de uma sociedade que buscava a todo momento se restaurar produzindo cotidianamente figuras de seus inimigos externos. 

Diante desse contexto, notamos esquerdas totalmente descredibilizadas, sem trabalho de base. Em outro momento, totalmente conciliadora com as elites que sempre se opuseram e incapaz de dialogar com as pessoas nas ruas. É visível que presenciamos esquerdas muito mais defensora de instituições, por vezes, muito focada em empoderamentos identitários do que de fato assumir uma postura de radicalidade. Percebemos o quanto a direita investe diariamente e nas redes virtuais em demonstrar e escancarar as contradições internas e discursivas entre as pautas das esquerdas e diante disso buscando ser convincente com as pessoas no dia a dia que passam a ter mais adeptos de suas ideologias. Tais argumentos persuasivos visam sempre desarticular e deslegitimar qualquer revolta no campo material contra o capital, ludibriando com mais lógica de empreendedorismo as classes menos privilegiadas. 

Assistimos as esquerdas elitistas preservando suas riquezas e seus privilégios de lugar de fala. Cabe destacar, o modo como foi capturado e roubado conceitos de grupos realmente libertários e que lutam contra o poder e contra o Estado, sendo articulado em protestos supostamente antiestado reivindicando a liberdade através de valores liberais e neoliberais na preservação de sua propriedade de si, como por exemplo, ancaps com ideais alinhados ao liberalismo ao fazer autorreferências de si mesmos como se fossem libertários e anárquicos. Sabemos que tudo isso não tem nada a ver com os anarquistas ingovernáveis que realmente lutam contra a propriedade, mas ao elucidar tais práticas de capturas e atuais táticas insurrecionais dos microfascismos, não devemos purificar conceitos, nem autores e nem sujeitos. 

Na lama das batalhas e no campo social, as práticas discursivas podem se confundir, se apropriar e se refazerem no limiar da crise e guerra permanente. Estejamos sempre atentos diante dessas possibilidades que estão sempre em aberto.