À base da privatização do
espaço e governo privado da coisa pública pelo capital, choque de ordem,
extermínios, massacres sistemáticos, gestões policiais das regiões pobres,
remoções pasteurizadas de favelas, controle violento da pobreza, ocupação
militar, especulações imobiliárias e higienismos, o "Rock in Rio"
apresentou seus espetáculos em um campo de concentração transformado para
turista e "inglês ver". E a cidade de tradição africana, indígena, de
imigrantes pobres socialistas e anarquistas, das polacas e prostitutas
francesas se converte em um carnaval de patrocínios entre a linguagem
marketeira que demonstra a subordinação para projetos e interesses políticos
transnacionais e esportivos.
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"They tried to make me go to rehab, but I said, 'No, no, no'"
A morte interrompe fluxos
criativos, mas o que é intempestivo afirma a finitude com o vigor incondicional
de sua vivacidade e não carrega a ganância da eternidade, e muito menos
deposita crenças e sentidos nas promessas de longevidade oferecida por
tratamentos mortificantes que dopa, interna e castra em nome do “bem-estar”
medicalizado e seus olhares clínicos. O corpo drogado, esquizo experimental
potencializa o não ao recusar terapias e os órgãos fascistas e puritanos da
sobriedade absoluta. Antes uma póstuma e curta passagem que ousa liberações do
que uma vida institucionalizada que perdura em refugos encarcerados.
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A "polícia da paz" anuncia a estratégia de ocupação, controle e
ordem como "mediação de conflitos" e já funciona no bairro que se
impõe a truculência da internação compulsória. Eis a policização da vida
cotidiana apoiada pelos agentes governamentais, recrutas voluntários de
associações de bairros, líderes comunitários e integrantes de ONG's. A conduta
policial disseminada pelo poder pastoral e amor ao assujeitamento.
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E a Belle Époque continua a lançar ecos sobre as subjetividades e manias
chiques e bestas daqueles que gostam de "curtir o frio" nos moldes de
seus arquétipos de lareira e inverno natalino ou parisiense. Em contraste aos
cafés, chocolates quentes, edredons, casacos e cachecóis, há os que dormem ao
relento e que o calor de suas existências ainda incomoda os que cultivam
normas, políticas e mentalidades higienistas.
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Há os que vivem para potencializar-se como ingovernáveis em seus devires e
desvios heterotópicos procurando resistir intensamente no interior dos campos e
fluxos ao problematizarem o presente acerca de uma ontologia crítica de nós
mesmos. Enquanto isso, há também os que buscam cooperar com as formas de
governo articulando-se em programas e parcerias como burros necessitadores de
práticas, receitas, alternativas e demais "soluções finais".
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Quando um dos seus escritos e pensamentos passa a provocar e a incomodar
idiossincrasias ressentidas e despeitadas, logo aparecem os medíocres que
tentam te rotular, biografizar ou classificá-lo de algum modo dentro de
sistemas rígidos de crenças, partidos, ideologias, religiões, filosofias e
ciências a partir de seus juízos simplistas e aprisionados em dualidades,
maniqueísmos e tantos outros binários da oposição de valores. O Comenta-dor da
vida e do trabalho alheio nada faz além de especular supostas
"contradições" de outrem.
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Em contraste ao oba oba de jovens almofadinhas em ascensão, futuros
programadores e bajuladores de Steve Jobs e entre outros dúbios, a nova
tecnologia dos tablets está sendo utilizada para expandir policiamentos, identificações
e rastreamentos de banco de dados e fichas pessoais, atualmente sendo
implantadas em viaturas policiais para aperfeiçoar os fluxos
computo-informacionais dos monitoramentos fechados e a céu aberto.
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As práticas de higienização são levadas a cabo não só por agentes
sanitários repressivos ou alternativos e positivos, como também por tantos
outros que atuam como colaboradores da tecnologia do governo das ruas e do
Estado em sua capilaridade, contando com o apoio da "sociedade civil"
normalizada, inclusive de fiscais participantes das políticas de faxina e
segurança ao executarem suas condutas fascistas criminalizando modos de vida e
perseguindo os múltiplos nomadismos das cidades. Para reproduzirem suas
condutas autoritárias, agem como zeladores da propriedade a partir da
pilhagem justificada com argumentos oficialescos.
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O que o discurso da
descriminalização não fala: Ela não afeta em nada o tráfico, lucros de bancos,
indústrias armamentistas e farmacológicas; não altera a moral proibicionista e
a dicotomia usuário e traficante; redimensiona o controle a céu aberto com psiquiatrização
e liberdades assistidas; desloca a penalização jurídica para os tratamentos
médico-psiquiátricos; reforma a repressão com leis restritivas ao consumo.
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E como já era previsto
sobre o que ia ser noticiado acerca dos dez anos do "11 de Setembro",
o espetáculo mass-mediático fez uma abordagem acentuando-o como um "evento
maior" ao querer imprimir um imperativo mais aterrorizante que as guerras
mundiais e os contextos bélicos do pós-guerra. Em seus simulacros monumentais
comemoraram a morte do que foi considerado o "inimigo n° 1 dos EUA"
ao mesmo tempo sem romper com o traumatismo sem um real trabalho de luto entre
o temor de "ameaças" em um por vir indeterminado. Em meio a
celebrações e turismos em museus, visitas a cemitérios e em lugares que ocorreram
os atentados, a memória congelada de solipsistas cristalizou as imagens da
catástrofe e do trauma atenuado e não superado, aos quais são ritualizados em
festivais de auto-imunidade a partir de estratégias cada vez mais contínuas do
estado de exceção sob os espectros da chamada "guerra ao terror" em
constantes deslocamentos. Com uma falsa tolerância e multiculturalismo,
prossegue nos EUA a disseminação de propagandas e discursos que financiam a
islamofobia, a xenofobia e o racismo.
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Sobre as Conspirologias
dos limítrofes de "Inteligência" Iluminada - Os limítrofes
posam-se de gênios ou "o escolhido" pelos deuses para revelar uma
verdade clarividente que só ele sabe e vê, como se os demais estariam
demasiadamente "cegos e enganados" para perceber. Para eles tudo gira
em torno de símbolos e rituais sobrecarregados de simulacros, significantes sem
significados reais, sua "inteligência" iluminada preenche as
prateleiras da erudição fast food e leituras de orelha de pseudo-intelectuais
que justificam sua preguiça, dizem não depender de livros, métodos e pesquisas,
pois sua "sabedoria" advém de percepções extrasensoriais, ou senão
radicalizam fanatismos reativos e imaginários colonizados na conjunção de
profecias escatológicas, teorias conspiratórias com questões ideológicas.
Nota-se a pirâmide da mediocridade assoberbante que tenta doutrinar a todos com
sua especulação miscelânica e mirabolante. O prolixo místico quer fazer crer
que o mundo na qual vivemos é uma grande farsa ou coisa parecida, quando se constata
algo contrário, logo se mostram com uma "genialidade" não
compreendida. Signos inflados, superficialidade acelerada, devaneios fabricados
pelos excessos informacionais, modas gnosticistas e sectaristas que
compõem elementos a mais nas promoções de vendas e consumos de produtos
culturais, liquidação e importação de ideais, hiperrealidades eletrônicas de
entretenimentos maciços e virtuais, espiritismos new age de rapsódias raciais e
atemporais romantismos. Daqui a pouco irão formular explicações próximas aos
revisionistas, negando, relativizando e reelaborando o passado histórico, pois
todos são análogos na adoração literária, mitológica e ancestral de ocultismos.
Para eles é mais fácil depositar crenças absurdas em invasões alienígenas do
que afirmar o próprio destino sem os sustentáculos e tentáculos que buscam
origens e fins a partir de hábitos metafísicos e científicos. Para eles é o
caminho mais simples culpabilizar e idealizar um topo de manipulação onisciente
ou um ponto todo-centralizado e piramidalizado de dominação unilateral e
althusseriana do que passar a perceber que o poder não só emana, mas também
circula em variáveis relações e é exercido em práticas cotidianas atravessando
todas as esferas da vida humana e não apenas nas mãos de uma determinada
“classe dominante” ou grupos arcanos.