Para intelectuais que
simpatizam com os estilos de vida e modismos de joviais moderninhos, a temática
sobre as liberdades individuais na atualidade dos conflitos no Oriente Médio e
no norte da África passou a ser confundida com a individualidade narcisista
permitida nas tecnologias de comunicação e quando se produz expectativas
universalizantes do modo de vida ocidentalizado.
Essa nata mencionada
acima agora está priorizando argumentos que valorizam a aclimatação de se
sentir livres a partir da moldura de perfis em redes sociais, como se
democracia contemporânea se reduzisse às ferramentas como a internet,
celulares, smart phones, acesso irrestrito ao capital humano de redenção
consumista e Aufklärung às fotogenias de luzes nos cabelos,
deixando para segundo plano ou desconsiderando questões pertinentes como a
suspensão de garantias constitucionais e constante violação de direitos humanos
em regimes de exceção. Esse último ponto não interessa mais a eles, preferem
idealizar no "mundo árabe" a sua nostalgia por Maio de 68 e se deixando levar
pela sensação de liberdade assistida. Mesmo arraigados no universalismo e
multiculturalismo ocidental, recaem no pensamento abissal de transportarem seus
modelos e olhar etnocêntrico às alteridades, consideram que os árabes estão
sofrendo de crises identitárias pela qual suas vontades se direcionam na
assimilação ao estilo de vida do Ocidente.
Parece que, o Ocidente e
uma leva de sua “geração sexy” (IWEALA) se voltaram para o Oriente Médio e
o norte da África com a idéia de afirmar sua superioridade cultural. Mostram-se
bem intencionados, e como missionários se engajam em divulgar sua mensagem para
o restante do mundo na qual o outro serve apenas para validar a sua própria
imagem imaginária.
Em outros termos,
percebe-se um esforço de persuasão em que o processo de ocidentalização por via
de regra devesse igualar a todos em sua chantagem liberal de “seja igual a
nós”, impondo paradoxalmente a própria diferença igualitária simplesmente por
não tolerarem a “outridade”.
A leitura desses autores
“pós-modernos” que reiteradamente se subterfugiam da análise crítica do
presente e questionamento do hoje e agora por conta de seu olhar nostálgico e
melancólico do passado e a “primavera” de um futuro romantizado, na sua busca
por reconhecimento e entendimento – como uma subjetividade que se projeta no
outro na preocupação de definir a si mesmo preservando a sua ontologia
ecológica – se mantêm numa certa distância ao mostrar seu respeito e tolerância
às diversidades étnicas e religiosas, esses fatores tornam-se válidos apenas
por tencionarem pregar seu evangelho multicultural, mesmo que para isto seja
preciso se fantasiar de Napoleão Bonaparte ou adotar Kant como o caudilho do
momento no sonho capcioso por “revoluções”. Agora, o uso da palavra
"revolução" não condiz mais com mudanças radicais, mas reivindicações
ajustadas às negociações e protestos realizados em zonas demarcadas e autorizadas. Talvez seja a maneira
que encontraram para garantir a sua paz interior na indiferença
ocidental pela guerra por outros meios nas arábias.
No fundo, assumiram a
posição do budismo europeu e o taoísmo na prosperidade
globalizada de interesses capitais. O valor universal da democracia
converteu-se numa forma mais eficiente e plastificada da democracia reproduzida
nos moldes liberais do capitalismo cognitivo, assim como analisou
Cocco, Negri e Hardt. Não se pode deixar de notar como o supostamente
universalista aposta na "primavera árabe" em nome dos direitos
humanos, tradições francesas de liberdade e dignidade e que terminam como uma
defesa do modo de vida particular ocidentalista e as coordenadas de sua
identidade e cultura. A retirada da burka do Outro-coisa apenas revela a face
do nosso escudo protetor impotente diante do “próximo” e incapaz de encarar
sujeitos dessubjetivados ao lançar olhares presumidos na dimensão apropriada do
“próximo” na distância estratégica das políticas de visibilidade e
monitoramento da sociedade de controle.
As organizações
governamentais e os conservadores da ordem internacional não estão vislumbrando
o espírito de rebeldia da juventude árabe, estão antenados para se auto
imunizarem contra ataques fundamentalistas e alardearem um
suposto perigo que se apresenta
como uma ameaça à sociedade civil transterritorializada ou identificar as
insurreições populares como “terrorismo” caso elas
ultrapassem os procedimentos seguros e delimitados da reivindicação. O dilema
da geopolítica global, especificamente do governo dos Estados Unidos, se baseia
no medo de radicais islâmicos chegarem ao poder.
Sob as promessas de
progresso e melhoria da qualidade de vida, a modernidade tecnocientífica exibe
seu desejo por teleologias querendo mostrar a todos que vale a pena exaltar as
virtudes e benefícios do nosso destino moderno e biotecnológico, como algo que
o olhar na mancha no outro não pudesse escapar. Contudo, autores ingênuos
preferem apostar no direito ao sonho e não no risco de se vivenciar o
impossível, como provoca Žižek.
A tal “primavera” se
orienta mais em horizontes históricos de produção normativa editados no
avigoramento de um futuro indeterminado, não espera por impulsos liberadores,
quer ver o "mundo árabe" satisfeito e acomodado com as promessas de
democratização, "transição e eleição", assim como foram articuladas
sobre as multidões na Tunísia e no Egito. Ao contrário do que anunciam esse
prisma com outros países e seus governos, a falsa esperança depositada visa
interditar a possibilidade ontológica e política dos conflitos árabes de
apropriar-se de suas próprias auroras e abrir-se ao próprio ser não como
essência ou atributo construídos ao modo de nossa racionalidade. Nota-se aí a
impotência por parte daqueles que pretendem coibir e destruir as
experimentações específicas e singulares que provocam a fenda, a ruptura,
a abertura para a comunidade que vem, nas palavras de Agamben. Em termos de
esclarecimentos que contam os minutos na pretensão de impedir novos devires, a
aclamada “primavera árabe”, ufânica e tendenciosa, se aprisiona no sonho do
outro e, como diria Deleuze: “Se você ficar preso no sonho do outro, você
está fodido”.
oLÁ,
ResponderExcluirAs pririzações da "nata intelectual ocidental" é diretamente proporcional aos ganhos de capital que terão seus patrões... defende-se revolução liberal no Egito, pois favorecerá o lucro das grandes empresas européias/americanas... defende-se a estabilidade autoritária na China, pois as grandes corporações estão lá dentro, faturando e enriquecendo, a custa da escravidão de trabalhadores. Oh, Mundo Cruel...
Parabéns pelo seu blog.