9 de junho de 2020

Sobre os Protestos Antirracistas e o Antifascismo

Temos que lembrar sempre que a política é a guerra continuada por outros meios. Aos insurgentes, sabemos como a paz nada mais é que o algoritmo do paradigma bélico e o corolário da justiça é a conquista, portanto, devemos recusar todas essas falácias da legalidade e ilegalidade.

Sempre atentos:

O bolsonarismo irá perdurar no Brasil com ou sem a persona de Bolsonaro (por mais que os seus seguidores estejam supostamente "arrependidos" pelo voto e se pendurando na opinião do centro), como também os projetos de reforma da Previdência e medidas de austeridades seguirão na "agenda econômica" mesmo sem Paulo Guedes e a exceção normalizada (Lawfare) nos aparatos jurídicos continuarão sem Moro.

Assim como, o punitivismo e a indústria do controle do crime perdurará independente do pacote anticrime.

A seletividade penal ainda permanece nas dicotomias entre preso comum e preso político. 

É preciso abolir toda essa cultura e moral do castigo.

As práticas e táticas dos que enfrentam as estratégias do golpe não deve recair nas redes dos que falam sempre em desgoverno disputando novas formas de governar.

A luta contra as máquinas fascistas do Estado e do mercado será incessante para as desativações e desfigurações desses dispositivos neoliberais, necropolíticos e securitários na própria democracia e no governo das condutas.

As ruínas tem que potencializar as heterotopias cotidianas e não redimensionar a resiliência conciliadora.

Nessas continuidades políticas, podemos notar que por mais que os governos passam, a polícia sempre fica, como um golpe de Estado permanente (e também disseminada nas condutas do "cidadão-vigília"). Percebe-se isso no modo como são feitas as criminalizações dos antifas não só pela extrema direita, como também pelas esquerdas hegemônicas que tentam capturar todas as revoltas espontâneas para debaixo de suas disputas governamentais ou quando muitos discursam sobre os "protestos pacíficos" e defesa democrática ao qual sempre remete na produção de dicotomias entre "manifestantes bons" e "manifestantes ruins".

Em meio aos protestos antirracistas e a destruição de estátuas que fazem homenagens aos personagens escravocratas, circula nas redes sociais o retorno de propagandas revisionistas que buscam criminalizar os antifas e ainda acusá-los de fascistas ao cultuar a imagem de Winston Churchill como um "herói da guerra" que combateu o nazismo durante a Segunda Guerra Mundial, ocultando a sua face burguesa e racista que defendia abertamente a supremacia branca, o apoio ao fascismo italiano de Mussolini, como também a sua política imperialista e genocida responsável diretamente pela morte de milhões de indianos no controle das colônias inglesas.

Em 2013, cabe lembrar que tanto a direita quanto as esquerdas criminalizaram a insurgência dos Black Blocs como vândalos mascarados e baderneiros, inclusive também chamando-os de fascistas.

Os meios de comunicação mass mediático e a racionalidade neoliberal ao mesmo tempo que, de uma forma retórica, se mostram contra o racismo, eles não combatem os dispositivos que fazem a operacionalização real do racismo na sociedade que se materializa a partir das ações policiais, nas desigualdades econômicas, nas seletividades do direito penal e demais práticas de controle social e territorial.

A mesma mídia corporativa que se diz indignada com o racismo é a mesma que classifica e criminaliza de forma descontextualizada os grupos que praticam saques e depredam "patrimônios".

Numa sociedade como a nossa, parece que são mais tolerantes com a violência praticada sobre os corpos do que o ataque à monumentos e prédios.

E lembrando que os saques são resultados direto do crescimento da desigualdade e do desemprego no país, muitos nos EUA, assim como George Floyd, também estão desempregados. Ao invés de contextualizarem as questões diante de problemáticas sociais e econômicas, produzem um discurso que ontologiza a conduta do criminoso através de estereótipos racializados.

É preciso não esquecer a canção Strange Fruit que denuncia os atos de linchamento contra os negros, sobretudo pelos movimentos sulistas de supremacia branca (Ku Klux Klan) a qual os negros eram enforcados e pendurados em árvores. Casas e igrejas incendiadas, a venda de drogas e álcool fomentada nos guetos para enfraquecer e desestabilizar os grupos de resistência negra, como os Black Phanters. Repressão policial, jatos d'água, mordidas de cães, apartheid, "bala perdida", gás lacrimogêneo, bala de borracha, cassetete, bombas de "efeito moral".

No momento, sempre há aqueles que falam em pacifismo, como se fosse possível combater todos os mecanismos de dominação e extermínio somente através de medidas pacíficas. Não se encaixa aqui algumas referências feitas à Ghandi na luta contra os britânicos na Índia por meio da não violência ou à Martin Luther King sem considerar os demais enfrentamentos que foram incisivos na luta pelos direitos civis e que tiveram sua importância para provocar as mudanças radicais, como por exemplo, a postura combativa de Malcom X

Diante dos neonazistas com "soco inglês", policiais infiltrados pra criminalizar os antifas como "terroristas" não há espaço para o não uso da violência.

No mundo pós 11 de Setembro, foram produzidas tecnologias de monitoramento restringindo a ocultação do rosto em espaços públicos enquanto uma política de "combate ao terrorismo" que incidia sempre na perseguição de muçulmanos/árabes e subversivos da ordem estabelecida. Hoje, em tempos de pandemia, a máscara simboliza de um lado a "boa conduta" do cidadão seguro que policia os costumes alheios, de outro uma vestimenta tática de anti contágio em levantes de rua.

Agora muito@s estão se autodenominando antifascistas, até o momento que uma vidraça ser quebrada ou uma propriedade privada ser atacada. De repente, até o momento em que for preciso o enfrentamento físico contra neonazistas e a tropa de choque.

O Coquetel Molotov não é moda, nem hashtag ou palanque pra partidos. Antifa não faz apelo por democracia e tampouco se resume em ativismos temporários, e sim busca destruir incessantemente todas as vísceras dos fascismos em seu próprio cotidiano. E para isso, é preciso estar atento com quem está em sua volta, pois o que não falta por aí são redes de infiltrados e de caguetagem (até mesmo entre supostos círculos de "amizade") que na primeira oportunidade te entregariam com o rótulo de "terrorista".

A revolta é antiestratégica, por vezes antiorganizativa em sua potência múltipla e difusa.

Não se combate o fascismo visando a defesa da democracia, mas sim destruindo as forças de segurança do Estado. Resistência, antes de tudo, deve ser antisegurança.

A luta antifascista e antirracista, de forma urgente, é a prática cotidiana que precisa fomentar a desativação dos dispositivos securitários e do cidadão-polícia.

A luta passa por rupturas que pretendem abrir as possibilidades de transformação radical em tempos que os fascismos se produzem como uma contrarevolução preventiva.

É perceber que a tirania é parte constitutiva da democracia, portanto, a luta antifascista não se iguala às amplas oposições democráticas contra o fascismo, pois sabemos que tiranos alcançaram o poder legalmente e democraticamente, não estamos apenas querendo restaurar a "normalidade" desse sistema, assim como anda fazendo grande parte das esquerdas e entre outros setores progressistas.

Lembrando que a luta antifascista não é só contra a extrema direita, mas contra todas as formas de opressão.

Luta antifascista não é demanda reativa às agendas do fascismo. Temos o nosso próprio devir e pulso vital de ataque, não nos ocupamos apenas nas reações. Para mais invenções de práticas antipolíticas que ampliam a atitude de revolta e as potências ingovernáveis.