O antifascismo não é uma campanha, e nem um cálculo para a redução
de riscos à democracia liberal. Tampouco uma mera oposição à
formalidade democrática que busca recompor a normalidade institucional e as
melhorias de Estado.
Nota-se que toda potência e luta antifascista vem sendo confundida com
os setores que estão sendo cooptados pelos programas de uma racionalidade
neoliberal que faz uso de aconselhamentos às condutas moderadas.
A racionalidade neoliberal ajusta as esquerdas para um posicionamento de
centro, faz com que o fascismo seja visto apenas como um efeito impulsionado
por governos estabelecidos, desconsiderando as forças que procedem de baixo,
nas moléculas e dobras de corpos e afetos da própria sociedade cotidianamente.
O discurso neoliberal produz a conduta moderada, como também os
impulsionamentos extremistas.
É comum considerarem o fascismo como uma prática de governo e Estado que
produz regimes de exceção. O que não se deve esquecer é que tanto o fascismo e o governo
da exceção como regra e força de lei são configurados, muitas vezes, em
governos democraticamente eleitos, se valendo de forças e organizações difusas,
como milicianos ou colaboracionistas individuais atuando como suportes
indispensáveis nas medidas punitivas e seletivas aos segmentos sociais por eles
esquadrinhados.
A vontade fascista de poder consiste nesse alinhamento da vontade
soberana com o desejo e pulsão do direito de matar entre as massas ressentidas
e reativas.
Contudo, existe sempre a possibilidade de um determinado líder autoritário falar em defesa da democracia e pacificação para integrar as forças violentas
do extremismo fascista nos dispositivos de negociações governamentais e fazer
com que a normalização se confunda com o terror.
Após as eleições, o discurso de pacificação e defesa democrática se
torna presente nas falas do capitão reformado, enquanto as condutas moderadas
tomam forma em clichês isentões de que "todos estamos no mesmo barco".
É preciso se atentar, as lutas antifascistas são incessantes e não um
programa ou ativismo temporário, elas cartografam incansavelmente as
resistências combativas, como também as barricadas libertárias que não se
deixam capturar pelas buscas do poder.