28 de julho de 2011

Dos Venenosos que Matam e Curam - Algumas pessoas fingem acreditar umas nas outras. Em seus rumores, depositam falsas expectativas, créditos, méritos ou juízos de valor para posteriormente diminuir e menosprezar o que dizem ser o seu "próximo". Elas o mortificam, e logo em seguida, por compaixão, recomendam a cura para depois ruminar os logros de seus regozijos aos quais depreciam prosperidades, celebram e até mesmo incentivam misérias alheias. Contudo, o desdém ou o pouco caso sempre foram e continuam sendo o assassinato nostálgico executado por aqueles que de forma tardia irão lamentar suas mesquinhas considerações a partir da covardia nomeada de "virtude". Piedade e caridade nunca foram sinônimos de confiança e vitalidade, elas jamais se prestaram para robustecer e revigorar forças. Os patifes com boa consciência agridem e trapaceiam no simulacro de amabilidades, chegando ao ponto de solicitarem perdão após ferir o outro. Eis a presunção dos que berram solidariedade conservando-se hostis e aguardando no covil brindar e comentar destroços de outrem. Nota-se o quanto são asquerosos os venenos que matam e curam, dos que querem cuidar, dissimular afabilidades a alguém e depois torcer para que ele tropece para assim oferecer a sua caridade, típico dos que aplaudem quedas, flagelam o seu "semelhante" e depois apelam por cuidados e filantropias. No entanto, há que se demonstrar sempre o contrário a quem em sua teia espera, imagina ou julga ser algo pouco provável. Contra a frieza dos juízes e dos falaciosos, nenhum dragão morre com venenos e emboscadas de víboras e tarântulas, tampouco devolve humilhações com as mesmas moedas usadas pelos apreços louvados e nutridos por mentiras, pois a sua fartura é demasiadamente fecunda para dispensar a vigília de urubus compassivos e não depender, nem ceder ou receber razões, justiças, castigos e curas de quem roga pragas e depois lambe as feridas.

26 de julho de 2011

Problemáticas acerca do Crescimento da Extrema-Direita na Europa

É cada vez mais grave o crescimento da extrema-direita na Europa e até podemos arriscar em falar que também avança aqui no Brasil. Diferente do que acreditam os mais incautos, as discriminações, o racismo, a censura, as injúrias, a aceitabilidade de políticas anti-imigratórias e a intolerância (que não é expressa apenas pela extrema-direita, como também por democratas) não infectam apenas o plano das ideias. O que está em questão é que a extrema-direita está intervindo no campo das preocupações reais e necessidades concretas das pessoas, como os problemas de se arranjar emprego, acesso à educação, moradia, pagar aluguel e etc., que corroboram os conflitos da convivência com o outro.
Esse é o ponto problemático: os partidos populistas que incentivam a oposição aos imigrantes muçulmanos, à globalização pela qual condena as tendências do multiculturalismo e a mestiçagem estão ganhando força política, onde as pessoas resolvem seu ódio à alteridade votando e aderindo discursos que estimulam a violência contra minorias, imigrantes e causas trabalhistas, chegando ao ponto de recorrerem à acusações de que os ataques a Oslo e à ilha de Utoeya serem atribuídos à Al Qaeda.
O discurso político da extrema-direita sabe das imprecisões e "falhas" do modelo multicultural e abstrato do direito e da sociedade universal que garante coexistência pacífica entre os povos, por isso que investe paulatinamente no plano da vida real e concreta de indivíduos e grupos, incentivando o retorno de identidades nacionais e encorajando reações violentas contra as diferenças. A livre circulação de expressões em redes sociais contribuiu para derrubar governos, como no caso do Egito, por outro lado ela concede maior espaço para que enunciados discriminatórios circulem livremente nos veículos de comunicação, ao ponto das pessoas acharem "normais" e "naturais" opiniões ofensivas a grupos historicamente excluídos.
Os protestos na França, a possível candidatura de Marine Le Pen nas eleições de 2012, as ideologias da extrema-direita que cresce nos países escandinavos e tantos outros acontecimentos demonstram como a extrema-direita está ditando a agenda geral, fazendo com que todos acreditem nas retóricas de defesa nacionalista, intolerâncias anti-imigratórias ou de que os meios mais radicais são necessários, servindo até para desviar a atenção dos serviços de segurança da Europa e dos EUA que estavam muito focados nos “terroristas islâmicos” e se esquecendo das ações de perdedores radicais locais.
A vontade de extermínio do autor do massacre na Noruega estava movida pela amplidão redentora da nação e restauração do corpo social a partir dos valores culturais e religiosos do cristianismo fundamentalista, conservador e islamófobo, querendo realizar de toda forma os modelos de vida fascista com as próprias mãos. Tais efeitos das novas configurações do fascismo contemporâneo demonstram o quanto ele é construído historicamente pelas relações humanas não como estruturas monolíticas e autoritárias de poder, e sim se adequando aos desejos das massas populares concedendo-lhes o exercício direto nas funções estatais de repressão, de controle, de polícia, como o poder de matar, confiscar, delatar e violar. Desse modo, o avanço da extrema-direita na Europa também pode ser analisado a partir dessas práticas de poder que estão esparramadas e investidas no interior da própria parcela da população, assim como estavam entranhadas nos múltiplos mecanismos que constituíram os fenômenos políticos do fascismo e do nazismo.
Para Zizek, toda essa explosão anti-imigratória e organização dos extremistas de direita estariam ligadas ao recuo da política esquerdista, segue abaixo o vídeo de uma de suas entrevistas sobre o tema:



13 de julho de 2011

Manhã (Prod. Rizoma)

O cotidiano inspira sonoridades. A tragédia recomeça de forma incessante e a alvorada reluz exuberância enquanto respiro maior esperança num amanhã e depois de amanhã. A experiência de possíveis passa pela pressão da doença, e após o despertar de longos períodos de convalescência, acordo contando as horas surpreendendo o espírito com dias saudáveis. Algo impele o corpo à paciência, ao desvio, dos pontos de repouso para as linhas de pensamentos solares. Renasce a gratidão de uma vivência que saiu tranquilamente de seu sono (...)

11 de julho de 2011

As Artimanhas do Establishment Edipiano Encenando Orfandade Digressiva

Já se consegue farejar a distância as pretensões e astúcias daqueles que se diziam orfãos atuando como pivôs do capital imaterial e ladinos flexíveis às artimanhas de oportunidades e garantias dos paternalismos institucionais pelas quais capturam afetos a partir de seus feudos, jogos de amabilidades e fraternidades ostrificadas. Perderam a espontaneidade inventiva e desapego criativo, com suas retóricas e condutas moderadas buscam empreender a própria energia “inteligente” em nome de cargos, comissões, títulos, elogios, convites, contratos, funcionalismos, diplomacias e burocracias de toda ordem, como manda o ethos dos “bem estabelecidos” nos programas e que ainda dissimulam devires supostamente desviantes.
Nada escrevem, lêem ou produzem se não for proveitoso para se rechear currículos, adquirir certificados e se auto-promover profissionalmente vislumbrando glórias, protocolos, carreiras e empregos. Ninguém tem tempo, estão ocupados demais para o desvio, quando a oferta aparece, imediatamente são assumidas por aqueles que não ousam dizer "não" tendo em vista compensações e status. É a tal "falta de tempo" acolhida como um prestígio social e que corre a favor não da vivência e experiências de estudos, criações, reflexões e pensamentos livres, e sim justificada para conseguir sair bem colocado em promoções funcionais ou quem sabe numa vaga em atividades administrativas.
Há quem culpabiliza a produtividade exigida na sociedade de controle, mas cabe mencionar também que o sequestro da "falta de tempo", dos assoberbados de trabalho, da "cultura da agitação" compõe o gozo bonificado daqueles que planejam intencionalmente a entrada em programas e seus valores, e que por vezes nem são tão produtivos assim, apenas usufruem desses argumentos para tirar de suas costas as responsabilidades e jogá-las para os outros.
As errâncias digressivas estarão sempre atentas contra as manhas de prolixos que procuram repaginar empreendedorismos absorvendo resistências no financiamento de “alternativos” remunerados, segundo os parâmetros de uma sustentabilidade que utiliza das palavras de transgressão e autogestão para ramificar as máquinas de sequestro e renovar rentáveis negócios de bancos, bolsas, departamentos, bancas de arguição, produtores culturais, artistas, intelectuais, ativistas e ongueiros, todos sequiosos por melhorias, campanhas, parcerias, iniciativas mass-mediáticas, convocações, participações e sobrevivência entre as tutelas de variáveis programas governamentais e organizações internacionais, não-governamentais, universitários e empresariais.
Os sentidos orfãos são intensamente desejantes no espaço em que vivencia, e não puritano como nos “objetivos” escalado pelo cúmplice imitador de adultos ou zelador de fidelidades, hierarquias, obediências voluntárias e regimes de ortologia dos saberes. Em suma, onde há édipos, não haverá digressões. A orfandade não espera as “portas abrirem” como se olhasse o futuro entre buracos de fechaduras, ela não fresta e nem aguarda brechas de um mundo visto e preenchido por intermédio de telas e janelas, ela resiste e potencializa a recusa em relação aos fluxos, enfrenta as tensões e cartografias do tempo presente e questiona a própria contemporaneidade com práticas e potências que expressam de forma incessante a não servidão às finalidades do controle.