Dos Venenosos que Matam
e Curam -
Algumas pessoas fingem acreditar umas nas outras. Em seus rumores, depositam
falsas expectativas, créditos, méritos ou juízos de valor para posteriormente
diminuir e menosprezar o que dizem ser o seu "próximo". Elas o
mortificam, e logo em seguida, por compaixão, recomendam a cura para depois
ruminar os logros de seus regozijos aos quais depreciam prosperidades, celebram
e até mesmo incentivam misérias alheias. Contudo, o desdém ou o pouco caso
sempre foram e continuam sendo o assassinato nostálgico executado por aqueles
que de forma tardia irão lamentar suas mesquinhas considerações a partir da
covardia nomeada de "virtude". Piedade e caridade nunca foram
sinônimos de confiança e vitalidade, elas jamais se prestaram para robustecer e
revigorar forças. Os patifes com boa consciência agridem e trapaceiam no
simulacro de amabilidades, chegando ao ponto de solicitarem perdão após ferir o
outro. Eis a presunção dos que berram solidariedade conservando-se hostis e
aguardando no covil brindar e comentar destroços de outrem. Nota-se o quanto
são asquerosos os venenos que matam e curam, dos que querem cuidar, dissimular
afabilidades a alguém e depois torcer para que ele tropece para assim oferecer
a sua caridade, típico dos que aplaudem quedas, flagelam o seu
"semelhante" e depois apelam por cuidados e filantropias. No entanto,
há que se demonstrar sempre o contrário a quem em sua teia espera, imagina ou
julga ser algo pouco provável. Contra a frieza dos juízes e dos falaciosos,
nenhum dragão morre com venenos e emboscadas de víboras e tarântulas, tampouco
devolve humilhações com as mesmas moedas usadas pelos apreços louvados e
nutridos por mentiras, pois a sua fartura é demasiadamente fecunda para
dispensar a vigília de urubus compassivos e não depender, nem ceder ou receber
razões, justiças, castigos e curas de quem roga pragas e depois lambe as
feridas.
A intensidade das resistências intempestivas que se desdobram no diagnóstico genealógico e descontínuo do presente
28 de julho de 2011
26 de julho de 2011
Problemáticas acerca do Crescimento da Extrema-Direita na Europa
É cada vez mais grave o
crescimento da extrema-direita na Europa e até podemos arriscar em falar que
também avança aqui no Brasil. Diferente do que acreditam os mais incautos, as
discriminações, o racismo, a censura, as injúrias, a aceitabilidade de
políticas anti-imigratórias e a intolerância (que não é expressa apenas pela
extrema-direita, como também por democratas) não infectam apenas o plano das
ideias. O que está em questão é que a extrema-direita está intervindo no campo
das preocupações reais e necessidades concretas das pessoas, como os problemas
de se arranjar emprego, acesso à educação, moradia, pagar aluguel e etc., que
corroboram os conflitos da convivência com o outro.
Esse é o ponto
problemático: os partidos populistas que incentivam a oposição aos imigrantes
muçulmanos, à globalização pela qual condena as tendências do multiculturalismo
e a mestiçagem estão ganhando força política, onde as pessoas resolvem seu ódio
à alteridade votando e aderindo discursos que estimulam a violência contra
minorias, imigrantes e causas trabalhistas, chegando ao ponto de recorrerem à
acusações de que os ataques a Oslo e à ilha de Utoeya serem atribuídos à Al
Qaeda.
O discurso político da extrema-direita
sabe das imprecisões e "falhas" do modelo multicultural e abstrato do
direito e da sociedade universal que garante coexistência pacífica entre os
povos, por isso que investe paulatinamente no plano da vida real e concreta de
indivíduos e grupos, incentivando o retorno de identidades nacionais e
encorajando reações violentas contra as diferenças. A livre circulação de
expressões em redes sociais contribuiu para derrubar governos, como no caso do
Egito, por outro lado ela concede maior espaço para que enunciados
discriminatórios circulem livremente nos veículos de comunicação, ao ponto das
pessoas acharem "normais" e "naturais" opiniões ofensivas a
grupos historicamente excluídos.
Os protestos na França, a
possível candidatura de Marine Le Pen nas eleições de 2012, as ideologias da
extrema-direita que cresce nos países escandinavos e tantos outros
acontecimentos demonstram como a extrema-direita está ditando a agenda geral,
fazendo com que todos acreditem nas retóricas de defesa nacionalista, intolerâncias
anti-imigratórias ou de que os meios mais radicais são necessários, servindo
até para desviar a atenção dos serviços de segurança da Europa e dos EUA que
estavam muito focados nos “terroristas islâmicos” e se esquecendo das ações de
perdedores radicais locais.
A vontade de extermínio
do autor do massacre na Noruega estava movida pela amplidão redentora da nação
e restauração do corpo social a partir dos valores culturais e religiosos do
cristianismo fundamentalista, conservador e islamófobo, querendo realizar de
toda forma os modelos de vida fascista com as próprias mãos. Tais efeitos das
novas configurações do fascismo contemporâneo demonstram o quanto ele é
construído historicamente pelas relações humanas não como estruturas
monolíticas e autoritárias de poder, e sim se adequando aos desejos das massas
populares concedendo-lhes o exercício direto nas funções estatais de repressão,
de controle, de polícia, como o poder de matar, confiscar, delatar e violar.
Desse modo, o avanço da extrema-direita na Europa também pode ser analisado a
partir dessas práticas de poder que estão esparramadas e investidas no interior
da própria parcela da população, assim como estavam entranhadas nos múltiplos
mecanismos que constituíram os fenômenos políticos do fascismo e do nazismo.
Para Zizek, toda essa
explosão anti-imigratória e organização dos extremistas de direita estariam
ligadas ao recuo da política esquerdista, segue abaixo o vídeo de uma de suas
entrevistas sobre o tema:
13 de julho de 2011
Manhã (Prod. Rizoma)
O cotidiano inspira
sonoridades. A tragédia recomeça de forma incessante e a alvorada reluz
exuberância enquanto respiro maior esperança num amanhã e depois de amanhã. A
experiência de possíveis passa pela pressão da doença, e após o despertar de
longos períodos de convalescência, acordo contando as horas surpreendendo o
espírito com dias saudáveis. Algo impele o corpo à paciência, ao desvio, dos
pontos de repouso para as linhas de pensamentos solares. Renasce a gratidão de
uma vivência que saiu tranquilamente de seu sono (...)
11 de julho de 2011
As Artimanhas do Establishment Edipiano Encenando Orfandade Digressiva
Já
se consegue farejar a distância as pretensões e astúcias daqueles que se diziam
orfãos atuando como pivôs do capital imaterial e ladinos flexíveis às
artimanhas de oportunidades e garantias dos paternalismos institucionais pelas quais
capturam afetos a partir de seus feudos, jogos de amabilidades e fraternidades
ostrificadas. Perderam a espontaneidade inventiva e desapego criativo, com suas
retóricas e condutas moderadas buscam empreender a própria energia
“inteligente” em nome de cargos, comissões, títulos, elogios, convites,
contratos, funcionalismos, diplomacias e burocracias de toda ordem, como manda
o ethos dos “bem estabelecidos” nos
programas e que ainda dissimulam devires supostamente desviantes.
Nada escrevem, lêem ou produzem se não for proveitoso
para se rechear currículos, adquirir certificados e se auto-promover
profissionalmente vislumbrando glórias, protocolos, carreiras e empregos.
Ninguém tem tempo, estão ocupados demais para o desvio, quando a oferta
aparece, imediatamente são assumidas por aqueles que não ousam dizer
"não" tendo em vista compensações e status. É a tal "falta de tempo" acolhida como um prestígio social e
que corre a favor não da vivência e experiências de estudos, criações,
reflexões e pensamentos livres, e sim justificada para conseguir sair bem
colocado em promoções funcionais ou quem sabe numa vaga em atividades
administrativas.
Há quem culpabiliza a produtividade exigida na sociedade de controle, mas cabe mencionar também
que o sequestro da "falta de tempo", dos assoberbados de trabalho, da
"cultura da agitação" compõe o gozo bonificado daqueles que planejam
intencionalmente a entrada em programas e seus valores, e que por vezes nem são
tão produtivos assim, apenas usufruem desses argumentos para tirar de suas
costas as responsabilidades e jogá-las para os outros.
As errâncias digressivas estarão sempre atentas contra as
manhas de prolixos que procuram repaginar empreendedorismos absorvendo
resistências no financiamento de “alternativos” remunerados, segundo os
parâmetros de uma sustentabilidade que utiliza das palavras de transgressão e autogestão para ramificar as máquinas de sequestro e renovar rentáveis negócios
de bancos, bolsas, departamentos, bancas de arguição, produtores culturais,
artistas, intelectuais, ativistas e ongueiros, todos sequiosos por melhorias,
campanhas, parcerias, iniciativas mass-mediáticas, convocações, participações e sobrevivência entre as tutelas de variáveis
programas governamentais e organizações internacionais, não-governamentais,
universitários e empresariais.
Os sentidos orfãos são intensamente desejantes no espaço
em que vivencia, e não puritano como nos “objetivos” escalado pelo cúmplice
imitador de adultos ou zelador de fidelidades, hierarquias, obediências voluntárias
e regimes de ortologia dos saberes. Em suma, onde há édipos, não haverá
digressões. A orfandade não espera as “portas abrirem” como se olhasse o futuro
entre buracos de fechaduras, ela não fresta e nem aguarda brechas de um mundo
visto e preenchido por intermédio de telas e janelas, ela resiste e
potencializa a recusa em relação aos fluxos, enfrenta as tensões e cartografias
do tempo presente e questiona a própria contemporaneidade com práticas e
potências que expressam de forma incessante a não servidão às finalidades do
controle.
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