Já
se consegue farejar a distância as pretensões e astúcias daqueles que se diziam
orfãos atuando como pivôs do capital imaterial e ladinos flexíveis às
artimanhas de oportunidades e garantias dos paternalismos institucionais pelas quais
capturam afetos a partir de seus feudos, jogos de amabilidades e fraternidades
ostrificadas. Perderam a espontaneidade inventiva e desapego criativo, com suas
retóricas e condutas moderadas buscam empreender a própria energia
“inteligente” em nome de cargos, comissões, títulos, elogios, convites,
contratos, funcionalismos, diplomacias e burocracias de toda ordem, como manda
o ethos dos “bem estabelecidos” nos
programas e que ainda dissimulam devires supostamente desviantes.
Nada escrevem, lêem ou produzem se não for proveitoso
para se rechear currículos, adquirir certificados e se auto-promover
profissionalmente vislumbrando glórias, protocolos, carreiras e empregos.
Ninguém tem tempo, estão ocupados demais para o desvio, quando a oferta
aparece, imediatamente são assumidas por aqueles que não ousam dizer
"não" tendo em vista compensações e status. É a tal "falta de tempo" acolhida como um prestígio social e
que corre a favor não da vivência e experiências de estudos, criações,
reflexões e pensamentos livres, e sim justificada para conseguir sair bem
colocado em promoções funcionais ou quem sabe numa vaga em atividades
administrativas.
Há quem culpabiliza a produtividade exigida na sociedade de controle, mas cabe mencionar também
que o sequestro da "falta de tempo", dos assoberbados de trabalho, da
"cultura da agitação" compõe o gozo bonificado daqueles que planejam
intencionalmente a entrada em programas e seus valores, e que por vezes nem são
tão produtivos assim, apenas usufruem desses argumentos para tirar de suas
costas as responsabilidades e jogá-las para os outros.
As errâncias digressivas estarão sempre atentas contra as
manhas de prolixos que procuram repaginar empreendedorismos absorvendo
resistências no financiamento de “alternativos” remunerados, segundo os
parâmetros de uma sustentabilidade que utiliza das palavras de transgressão e autogestão para ramificar as máquinas de sequestro e renovar rentáveis negócios
de bancos, bolsas, departamentos, bancas de arguição, produtores culturais,
artistas, intelectuais, ativistas e ongueiros, todos sequiosos por melhorias,
campanhas, parcerias, iniciativas mass-mediáticas, convocações, participações e sobrevivência entre as tutelas de variáveis
programas governamentais e organizações internacionais, não-governamentais,
universitários e empresariais.
Os sentidos orfãos são intensamente desejantes no espaço
em que vivencia, e não puritano como nos “objetivos” escalado pelo cúmplice
imitador de adultos ou zelador de fidelidades, hierarquias, obediências voluntárias
e regimes de ortologia dos saberes. Em suma, onde há édipos, não haverá
digressões. A orfandade não espera as “portas abrirem” como se olhasse o futuro
entre buracos de fechaduras, ela não fresta e nem aguarda brechas de um mundo
visto e preenchido por intermédio de telas e janelas, ela resiste e
potencializa a recusa em relação aos fluxos, enfrenta as tensões e cartografias
do tempo presente e questiona a própria contemporaneidade com práticas e
potências que expressam de forma incessante a não servidão às finalidades do
controle.
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