26 de julho de 2011

Problemáticas acerca do Crescimento da Extrema-Direita na Europa

É cada vez mais grave o crescimento da extrema-direita na Europa e até podemos arriscar em falar que também avança aqui no Brasil. Diferente do que acreditam os mais incautos, as discriminações, o racismo, a censura, as injúrias, a aceitabilidade de políticas anti-imigratórias e a intolerância (que não é expressa apenas pela extrema-direita, como também por democratas) não infectam apenas o plano das ideias. O que está em questão é que a extrema-direita está intervindo no campo das preocupações reais e necessidades concretas das pessoas, como os problemas de se arranjar emprego, acesso à educação, moradia, pagar aluguel e etc., que corroboram os conflitos da convivência com o outro.
Esse é o ponto problemático: os partidos populistas que incentivam a oposição aos imigrantes muçulmanos, à globalização pela qual condena as tendências do multiculturalismo e a mestiçagem estão ganhando força política, onde as pessoas resolvem seu ódio à alteridade votando e aderindo discursos que estimulam a violência contra minorias, imigrantes e causas trabalhistas, chegando ao ponto de recorrerem à acusações de que os ataques a Oslo e à ilha de Utoeya serem atribuídos à Al Qaeda.
O discurso político da extrema-direita sabe das imprecisões e "falhas" do modelo multicultural e abstrato do direito e da sociedade universal que garante coexistência pacífica entre os povos, por isso que investe paulatinamente no plano da vida real e concreta de indivíduos e grupos, incentivando o retorno de identidades nacionais e encorajando reações violentas contra as diferenças. A livre circulação de expressões em redes sociais contribuiu para derrubar governos, como no caso do Egito, por outro lado ela concede maior espaço para que enunciados discriminatórios circulem livremente nos veículos de comunicação, ao ponto das pessoas acharem "normais" e "naturais" opiniões ofensivas a grupos historicamente excluídos.
Os protestos na França, a possível candidatura de Marine Le Pen nas eleições de 2012, as ideologias da extrema-direita que cresce nos países escandinavos e tantos outros acontecimentos demonstram como a extrema-direita está ditando a agenda geral, fazendo com que todos acreditem nas retóricas de defesa nacionalista, intolerâncias anti-imigratórias ou de que os meios mais radicais são necessários, servindo até para desviar a atenção dos serviços de segurança da Europa e dos EUA que estavam muito focados nos “terroristas islâmicos” e se esquecendo das ações de perdedores radicais locais.
A vontade de extermínio do autor do massacre na Noruega estava movida pela amplidão redentora da nação e restauração do corpo social a partir dos valores culturais e religiosos do cristianismo fundamentalista, conservador e islamófobo, querendo realizar de toda forma os modelos de vida fascista com as próprias mãos. Tais efeitos das novas configurações do fascismo contemporâneo demonstram o quanto ele é construído historicamente pelas relações humanas não como estruturas monolíticas e autoritárias de poder, e sim se adequando aos desejos das massas populares concedendo-lhes o exercício direto nas funções estatais de repressão, de controle, de polícia, como o poder de matar, confiscar, delatar e violar. Desse modo, o avanço da extrema-direita na Europa também pode ser analisado a partir dessas práticas de poder que estão esparramadas e investidas no interior da própria parcela da população, assim como estavam entranhadas nos múltiplos mecanismos que constituíram os fenômenos políticos do fascismo e do nazismo.
Para Zizek, toda essa explosão anti-imigratória e organização dos extremistas de direita estariam ligadas ao recuo da política esquerdista, segue abaixo o vídeo de uma de suas entrevistas sobre o tema:



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