É cada vez mais grave o
crescimento da extrema-direita na Europa e até podemos arriscar em falar que
também avança aqui no Brasil. Diferente do que acreditam os mais incautos, as
discriminações, o racismo, a censura, as injúrias, a aceitabilidade de
políticas anti-imigratórias e a intolerância (que não é expressa apenas pela
extrema-direita, como também por democratas) não infectam apenas o plano das
ideias. O que está em questão é que a extrema-direita está intervindo no campo
das preocupações reais e necessidades concretas das pessoas, como os problemas
de se arranjar emprego, acesso à educação, moradia, pagar aluguel e etc., que
corroboram os conflitos da convivência com o outro.
Esse é o ponto
problemático: os partidos populistas que incentivam a oposição aos imigrantes
muçulmanos, à globalização pela qual condena as tendências do multiculturalismo
e a mestiçagem estão ganhando força política, onde as pessoas resolvem seu ódio
à alteridade votando e aderindo discursos que estimulam a violência contra
minorias, imigrantes e causas trabalhistas, chegando ao ponto de recorrerem à
acusações de que os ataques a Oslo e à ilha de Utoeya serem atribuídos à Al
Qaeda.
O discurso político da extrema-direita
sabe das imprecisões e "falhas" do modelo multicultural e abstrato do
direito e da sociedade universal que garante coexistência pacífica entre os
povos, por isso que investe paulatinamente no plano da vida real e concreta de
indivíduos e grupos, incentivando o retorno de identidades nacionais e
encorajando reações violentas contra as diferenças. A livre circulação de
expressões em redes sociais contribuiu para derrubar governos, como no caso do
Egito, por outro lado ela concede maior espaço para que enunciados
discriminatórios circulem livremente nos veículos de comunicação, ao ponto das
pessoas acharem "normais" e "naturais" opiniões ofensivas a
grupos historicamente excluídos.
Os protestos na França, a
possível candidatura de Marine Le Pen nas eleições de 2012, as ideologias da
extrema-direita que cresce nos países escandinavos e tantos outros
acontecimentos demonstram como a extrema-direita está ditando a agenda geral,
fazendo com que todos acreditem nas retóricas de defesa nacionalista, intolerâncias
anti-imigratórias ou de que os meios mais radicais são necessários, servindo
até para desviar a atenção dos serviços de segurança da Europa e dos EUA que
estavam muito focados nos “terroristas islâmicos” e se esquecendo das ações de
perdedores radicais locais.
A vontade de extermínio
do autor do massacre na Noruega estava movida pela amplidão redentora da nação
e restauração do corpo social a partir dos valores culturais e religiosos do
cristianismo fundamentalista, conservador e islamófobo, querendo realizar de
toda forma os modelos de vida fascista com as próprias mãos. Tais efeitos das
novas configurações do fascismo contemporâneo demonstram o quanto ele é
construído historicamente pelas relações humanas não como estruturas
monolíticas e autoritárias de poder, e sim se adequando aos desejos das massas
populares concedendo-lhes o exercício direto nas funções estatais de repressão,
de controle, de polícia, como o poder de matar, confiscar, delatar e violar.
Desse modo, o avanço da extrema-direita na Europa também pode ser analisado a
partir dessas práticas de poder que estão esparramadas e investidas no interior
da própria parcela da população, assim como estavam entranhadas nos múltiplos
mecanismos que constituíram os fenômenos políticos do fascismo e do nazismo.
Para Zizek, toda essa
explosão anti-imigratória e organização dos extremistas de direita estariam
ligadas ao recuo da política esquerdista, segue abaixo o vídeo de uma de suas
entrevistas sobre o tema:
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