As disposições de
governados colaboram para expandir a "saúde do Estado" e conservar a
ordem (ou o coro da "desordem" cadenciada militarmente) do corpo
social. Os compartilhadores de institucionalidades inacabadas adotam as
políticas de tolerância para atualizar práticas de prevenção geral e
securitária. Nos fluxos do capital imaterial da sociedade de controle numa
democracia representativa e participativa, até os hackers são recrutados,
capturados e contratados por empresas, por exemplo, na política de combate ao
"crime de hacktivismo", contenção de ameaças cibernéticas e para
reforçar a segurança privada, estatal e planetária. Assim como o catador de
lixo é convocado por cooperativas ecológicas para participar do desenvolvimento
sustentável nos jogos de revitalização das cidades e políticas preventivas de
profilaxia urbana.
Muitas vezes, o militante
na luta antimanicomial recebe a oportunidade de atuar como agente sanitário na
repaginação de arranjos epidemiológicos, no engajamento antipsiquiátrico
acolhido pelas campanhas contra as drogas para oferecer tratamentos a céu
aberto em áreas georreferenciadas como vulneráveis, até o ponto de a prática de
internação e a moral psiquiátrica serem aceitas, subjetivadas e negociadas
pelos próprios usuários a partir de "disciplinas positivas" oferecidas por
funcionários “flexíveis”. Entre as práticas
punitivas, o cidadão passa pela convocação eletrônica da delação e a conduta do
policiamento.
Nas crescentes e velozes mobilizações de protestos organizados via redes
sociais, microblogs e celulares, o Estado em sua capilaridade se vale dessa
velocidade para localizar, identificar e silenciar as manifestações sobre as
quais são organizadas por meio de convocações eletrônicas e sob o controle de
seus proprietários, mapeamentos de banco de dados e imediatas censuras e
interceptações. Os incômodos dos protestos contemporâneos reproduzem nos fluxos
do ciberespaço os motes e demandas que sempre convergem para o Estado e leis
regulatórias. Giram em torno dos reajustes de um capitalismo sideral, um querer
mais Estado distribuído em seguros, moradias,
empregos, bens de consumo, escolarização e cuidados ampliados. Presencia-se o
modo como ressurge a institucinalização de outros fascismos corroborados
enquanto soluções de crises econômicas globais, e também como o modelo do Welfare State vem sendo utilizado para
domesticar ou criminalizar, principalmente, as populações periféricas.
Na onda de marchadores autorizados e tutelados pela polícia ao qual
dependem do aval de juízes, produz-se a captura de resistências, as variedades
tecnológicas do governo das ruas necessita fomentar direitos de participação da
sociedade civil para expandir o governo da cidade e do Estado e ainda servir
para testar as possibilidades das novas tecnologias computo-informacionais e
programas de empresas, dando maior visibilidade a jovens com ações coordenadas
e globalmente articuladas pelos fluxos e circuitos difusos das práticas de poder.
Todas essas euforias de "protestos.com" passam a servir de
colaboradores do governo da vida no planeta e de Estado, mecanismos de
subjetivação empresarial e ongueira aos quais incluem minorias como agentes do
desenvolvimento sustentável. Desse modo, os colaboradores
que visam participar nas instâncias de governo não se interessam por
potencializar resistências, querem apenas contribuir para novas
empregabilidades e a partir de institutos, núcleos de universidades, escolas,
empresas, ONG's, pastorais, associações comunitárias e coordenadorias de
crianças e jovens pretendem continuar agilizando funcionamentos e complementar
a governamentalização do Estado, da cidade, das ruas e do planeta através de
programações colaborativas, empreendedorismos voluntários de si e dos outros e
reformismos bem intencionados, moderados e disponíveis a negociações no
interior de outros deslocamentos das variedades governamentais
descentralizadas.
É preciso não estar
acessível aos catálogos e programas de melhorias. Corpos livres não são bens
negociáveis, eles não se ajustam aos regimes de castigos e dívidas infinitas,
por mais que se apresentem sorridentes, positivos e amigáveis. A combustão do
fogo corporal não cessa e nem perde a sua força diante da oferta, negócios e
acolhimentos, ela escapa intensamente das redes aperfeiçoadas e imperceptíveis
do governo e não aceita fazer parte do exército amesquinhado de
colaboracionistas.
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