27 de novembro de 2021

BREVE ENSAIO PARA UMA GENEALOGIA DE UM GOVERNO TIRÂNICO NO BRASIL

“Arruaça reacionária com anuência policial. Rebanho estúpido e fanático que agradece tudo aquilo que lhe é prejudicial. Pátria sempre vai ser a louvação tradicional da carnificina. Entre os lambe botas que desfilam em avenidas ao amar a mortificação de si em nome da soberania de suas milícias” (Andrews Amorim)


As reformas desse neoliberalismo brutal desmantelaram ainda mais os serviços públicos e estão diretamente associadas aos efeitos de uma pandemia perpassada pelo negacionismo como uma gestão do descaso na forma de um genocídio necropolítico.


A gestão da crise e das precariedades se tornou uma prática de governo efetiva ao ponto de fazer dela algo permanente e insuperável para ser justificada como “medida de austeridade” que promove cortes de direitos, aumento no custo de vida e escancarada pauperização da população mais pobre. E sempre em prol dos patrimônios e rendimentos de uma oligarquia financeira que reside no topo do poder. Vale lembrar que a conduta da resiliência sempre é convocada nessa forma de governar a miséria para arrebanhar a obediência e conformar as precarizações como uma consciência de cidadania.


Não é de hoje que o atual canalha que senta ao trono em parceria de sua família vem tentando promover um golpe militar de Estado e até mesmo um possível autogolpe. Como também não é de hoje que as Forças Armadas utilizam de uma suposta guerra interna para a tomada de poder. O núcleo militar sempre fez uso de um suposto antagonismo contra si mesmo para vender a imagem de que eles são as forças de contenção inevitável da “ordem”. Guerra civil não declarada de Canudos à Contestado, do Exército às “forças de pacificação”, das práticas de extermínio contra movimentos populares no Império à perempta história de “caça comunista” como nomenclatura para qualquer figura de uma singularidade/coletividade insurgente.


Sabemos que na democracia também se elege tiranos, atualmente no Brasil o "efeito bozo" empoderou a estupidez na qual explicar o óbvio passou a ser uma tarefa difícil em tempos de total imbecilidade ideológica. Nota-se o envolvimento com as milícias e a elite agrária, a convocação de greves com pautas reacionárias e fechamento do congresso, apoiam o voto impresso abrindo espaço para a fomentação do voto de cabresto do coronelismo e o crime organizado exercido pelos agentes oficiais e extra oficiais do Estado.


Vivemos os efeitos de uma ruptura política como resultado do esgotamento dos pactos e alianças da Nova República. No período pós ditadura civil-militar esse foi o preço bastante caro a se pagar para o país entrar em um processo de transição ou reabertura para a democracia. Como resultado disso, a mesma polícia e milicos torturadores permaneceram intocáveis nos consórcios do governo e no Estado de direito, com seus cargos políticos preservados desde o período da transição supostamente democrática.


Hoje vivenciamos o efeito dessa ruptura dos pactos políticos com as posturas de radicalização e constantes levantes populares convocados pelas mídias sociais e digitais.


Entre máquinas algorítmicas e empresas privadas de fake news, veio emergindo figuras autoritárias  que em seu fanatismo ultra conservador dissimula essa conduta como uma luta antissistema ou anticorrupção. O que na verdade não se tem nada de antissistêmico em suas condutas, e sim demonstra que eles são a própria base do sistema que está aí.


Identificados com as figuras grotescas e ridículas da mídia que defecavam suas opiniões racistas, misóginas e homofóbicas em programas de auditórios, tais setores reacionários passaram a enxergar os seus ideais fascistoides como uma luta por "liberdade de expressão".


Programas de tv que se autointitulavam como "humor politizado e diferenciado" deu palco pra fascista falar até cair nas graças popular e se identificar com as bravatas daquele que passou a ser chamado de "mito". De promover uma figura autoritária dos porões da ditadura como algo cômico que gerava ibope e garantia audiência em cima de assuntos polêmicos.


Essas forças de reação sempre buscam negar o racismo estrutural na sociedade contra os negros e indígenas, arraigados em pressupostos universalistas afirmam que qualquer prática de luta contra discriminações seria vitimismo. Enxergam qualquer sinal de representatividade como "racismo reverso" e se fundam em versões revisionistas dos acontecimentos históricos para deslegitimar qualquer prática antirracista.


Semelhantes aos movimentos do integralismo na ditadura civil-militar de 64, os verde-amarelos que atualmente desfilam pró-governo nada mais são que o efeito desse Estado suicidário em que presenciamos no Brasil sobre a qual produz um ritual de mortificação de si mesmo em nome da crença e da vontade soberana de uma liderança que os ameaça e tiraniza. De uma figura patética do poder que encena o tempo todo um ritual de onipotência mesmo quando é visível a sua real decadência e impotência miserável.


Basta observar em 2022 que a face do "#BrasilSemBolsoLula" é a mesma de quem cravou 17 nas urnas em 2018 e os que mais incentivaram a polarização política agora posando de oposição ou clamando a "terceira via" que ainda permanece neoliberal e repetindo a mesma fórmula da suposta anticorrupção.


As forças reativas no Brasil se organizaram como algo insurrecional, enquanto práticas de uma contrarrevolução preventiva ao qual mobiliza os processos de subjetivação de um fascismo popular, a tal modo que, um número expressivo da população vai às ruas para suplicar por intervenção militar e defender o tirano fascista que os governa e os mortifica.


No entanto, é a revolta que introduz a subjetividade na história, entre nós, cabe fomentar a insurreição e revolução molecular contra todas essas subjetivações insurrecionais dos microfascismos cotidianos.

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