4 de outubro de 2018

Brasil (2018)

Como diria Theodor Adorno e Max Horkheimer nos tempos em que estava em ascensão o nazismo na Alemanha, como também o fascismo italiano: “tem certas situações históricas onde é muito estúpido ser inteligente”. Há contextos em que parece ser inútil difundir o conhecimento, pois a ignorância se sobressai em todos os lugares.

Isso é válido ser lembrado no atual contexto em que se vive hoje no Brasil em véspera de eleições sobre a qual o vazio da ignorância prevalece e não importa expor fatos e evidências, pois as massas sempre irão defender e idolatrar seus mentores políticos através de crenças messiânicas e personagens cômicos na radicalização de discursos e práticas.

Mas, como todos os conservadorismos e reacionarismos atuais parecem sempre odiar e desqualificar a figura do intelectual combativo e também do historiador, esse é o momento para alguns deles dispensar uma suposta "neutralidade" e retomar o incômodo de pontuar algumas considerações sobre o que vem acontecendo.

Cabe destacar, primeiramente, que após o regime militar de 1964, o país teve que pagar um preço para supostamente entrar numa democracia e decretar a chamada Lei da Anistia, ou seja, um acordo que o atual modelo de governo democrático teria que fazer para "perdoar" os crimes de corrupção, tortura, grupos de extermínio, assassinatos, chacinas, ações extrajudiciais, massacres em cidades e no campo, desaparecimentos forçados, perseguições, ameaças e estupros praticados pelos agentes de Estado nos tempos da ditadura civil-militar.

Isso fez com que muitos desses mesmos agentes hoje se infiltrassem no atual modelo democrático de governo e ainda ocupassem cargos políticos com suas famílias, como também possibilitou que muitos desses setores militares participassem na criação da Constituição de 1988. Esse processo ficou conhecido como um sistema de pactos sociais pós ditadura militar no percurso de uma Nova República e que hoje presenciamos a total corrosão desses pactos e conciliações.

Assim, como houve na Alemanha em negar o passado e a existência do holocausto nazista, esse revisionismo histórico está bastante em curso aqui no Brasil, com setores da sociedade negando a existência da ditadura civil-militar ou contando de uma outra forma os fatos de como realmente aconteceu, sempre relativizando as ações de agentes militares que chegaram a prender, torturar e exilar até mesmo crianças e não apenas subversivos políticos acusados de "comunista".

Nenhum torturador do regime militar foi preso ou indiciado por seus crimes do passado, justamente esse é o motivo para se manter um regime de aparências e teses revisionistas infundadas. Enquanto não apurar os fatos e condenar os responsáveis e seus colaboradores, haverá quem negue que houve ditadura.

Houve de fato um terrorismo de Estado no Brasil no período da ditadura civil-militar, hoje se torna conivente negar tal evidência para se colocar em marcha um novo golpe militar no país, e obviamente tendo o apoio de grande parte da própria sociedade.

Atualmente se pode notar como a guerra civil se tornou uma forma de governo e a violência política se tornou parte constitutiva desse laboratório neoliberal em desdobramento no Brasil.

Nota-se como o ódio político é utilizado na ascensão e reinvenção da extrema direita e no momento em que ocorre um total descrédito e desencanto com as esquerdas que perderam o horizonte de promessas e transformação, como também a perda de postura de uma radicalidade política, assumindo no decorrer dos tempos um viés legalista na qual fez com que a direita absorvesse tal posicionamento de radicalização e aproximação das necessidades populares.

Com isso, vemos no Brasil o neoliberalismo em sua fase mais brutal, como uma racionalidade política que anula qualquer distinção entre partidos de esquerda e direita, embora no campo dos discursos estejam altamente polarizados.

A partir disso, prossegue em circulação muita gente dizendo que o nazismo era de esquerda ou o recrudescimento de ideologias de uma “conspiração comunista” no poder reforçando as constantes polarizações no cenário político.

Nunca é demais recordar que tanto o nazismo quanto o fascismo não têm relação alguma com polarizações, eles sempre se colocaram acima de tudo para representar interesses nacionais de massas e elites.

Toda as práticas de extermínio executados pelo Estado se valeram do apoio popular de grande parte da sociedade na época que tinham o desejo de eliminar a "raça ruim" e revitalizar a ordem do corpo social.

Bastante parecido com a síndrome de um fascismo social que vemos hoje em larga medida no Brasil, com demandas na sociedade pedindo apelo às violências de Estado, como mandantes indiretos das penas escolhendo seus alvos a serem extirpados a qualquer custo ou enxergando nas instâncias superiores de poder o meio mais fácil e mágico para ser executado os serviços sujos de limpeza e restauração da ordem.

No Brasil, poderia se dizer que atualmente está em curso uma governamentalidade ultra neoliberal bastante semelhante com o modelo latino americano da ditadura de Pinochet e o crescimento da extrema direita no mundo.

Há claramente um programa neoliberal no país no auge da radicalização que está em marcha com projetos de “privatização de tudo” e conquistado à bala na emergência máxima de um Estado policial e penal.

E nós que escrevemos textos assim, nos espaços possíveis de diálogo e análise dos acontecimentos, vamos ser os primeiros alvos que tentarão abater nesse atual contexto de brutalização política no Brasil.

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