29 de março de 2011

Sobre Amizade e as Conveniências


Sabemos muito bem que não existe ação sem interesse, ainda mais entre amigos. Mas, se o círculo oportunista necessita de escadas socializantes, então que ele encontre o primeiro estúpido e concorrente utilitário que vier pela frente disposto a lhe conhecer melhor e com vontade de ser reconhecido por todos oferecendo pratos preparados com seus juízos de valores morais. Deixe-os tecerem as teias para raptar e produzir um ninho de aduladores no jogo de conveniências emparedadas. Agora, os mais argutos conseguem farejar a distância o fedor de tais wagnerianos dissimulados; e não bebe do veneno e nem tão pouco dão margem para que garimpeiros plagiadores e vampirescos se aproximem com pretensões de autossuficiência. Desses, é preciso romper qualquer laço, sobretudo daqueles que alardeiam amizade colocando-a na mesa de seu telos na busca pelo pão de cada dia. Para uma intensa conversação, partilha e troca de experimentações, muitas vezes, a desconfiança alegre é um sinal de saúde e uma criteriosa escolha de um vinho da vida. E diferente do que dizem os crentes e por mais desagradável que seja admitir, é dela que se desembaraça um sentimento de serenidade. Nela é possível encontrar destinos singulares que podem coexistir sem depositar expectativas absolutas em algo para a satisfação própria. Confiar ilimitadamente nas pessoas sob o preço de mais entendimento de si e dos outros é uma das maiores e enfermas ingenuidades, solo fértil para ervas daninha e um abismo de decepções para os que se entregam às razões castas das virtudes. E dito isto, não repousa justificativas para o que é inseguro, mas de propósito, a precisão de se desviar dos maus cheiros e a coragem de livrar-se das podres e fadigadas mediocridades e suas fumaças sufocantes, pois ela exala o lodo dos que estão sujeitos a devorarem uns aos outros para subir ao trono e puxar a alavanca do poder. A patologia deles somente se presta a servir e digerir as relações humanas em nome da idolatria dos supérfluos. Atente-se contra esses furtos e a doença que chamam de “cultura”, eles adoram apropriar pra si os tesouros da criação alheia para adquirirem riquezas e possuir prestígio individual. O coletivo passa a ser um meio de estatutos, burocracias, protocolos, ethos funcionalizados pela economia de princípios e preservação hipócrita de uma certa comunidade do “nós”. E justamente são esses empresários morais que jamais vivenciaram a exuberância de amizades autênticas, são seduzidos facilmente pelas carícias do vazio e da decadência pela qual dependem e não conseguem desvencilhar.

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